sexta-feira, 2 de julho de 2010

Piripaque

Sexta-feira. Dois de julho de 2010. Oito horas da manhã. Um risco de sol entrava pela sacada. Vestiu sua camiseta azul com o número quatro estampado nas costas e saiu. O barulho dos carros frenéticos embrulhava seu estômago. Embaralhavam seus olhos ainda adormecidos. O sol não parecia querer esquentar. O céu completamente azul parecia solitário. As crianças serelepes a passos largos deixavam a escola. As horas passaram rápido. Os carros tentavam se esconder. As lojas fechadas. O verde e amarelo até nos cães. A cidade parou? Quase o silêncio. Aquelas máquinas jamais param. As mulheres não apareceram no salão de beleza para vibrar. O telefone não tocou na pastelaria. Sentou-se confortavelmente. Sentiu seus pés gelados. As mãos ansiosas.

Seus olhos nervosos percorriam o ambiente. As toalhas no varal, os quadros, a roupa da mulher que passava solitária pela rua, os lençóis no varal da vizinha, o suco no copo, tudo igualzinho a cor da camiseta daquele time. Jogo de futebol outra vez. Os gritos da vizinhança anunciavam o primeiro gol. Bolas na trave, expulsão, gol e mais gol. Não é comentarista de futebol, não pintou a cara, não saiu à janela para comemorar, não entende “patavinas” desta maravilha. Mas inflama o peito, arrepia-se, segue a mesma causa daqueles. E também fica perplexa frente à televisão. Pode ter sido a mulherada do salão que se ausentou na reta final. Mas será que foi o “pé frio”? Será que Jorge Cajurú, está certo? “A copa do mundo está vendida e o Brasil não vai ganhar”. Mas é qualé quié desse sentimento?

Para alguns é uma “mistureba” gostosa. Para ela, a vontade de acariciar. Acalmar o choro. Abraçar forte as tristonhas crianças que sonharam em ver pela primeira vez a seleção brasileira ganhar a Copa do Mundo. Mas eles entendem muito mais do que ela. É sensação momentânea. Na sacada a aflição. A cada lance perdido gritos, palavrões, vozes estranhas. Mas o que ecoava mais saliente era a narração de Galvão Bueno rouco, quase sem voz. Se Juan, o número quatro, não tivesse perdido aquele gol Galvão teria ficado sem voz. Felicidade geral na sacada. “Mas vem cá, tu sabe sambar?” Porque eles sambaram em um tempo só. A revanche das laranjas deu-se de fato na África. Mas o Brasil fica logo ali, em algum canto que você quiser encontrar. Sorriso no rosto, a pele morena, branca, parda, o abraço apertado, a amizade distante, força, fé, união. Ela não tem a ginga, não tem samba no pé, não tem o domínio da bola, a firula da moçada. Saiu. Com sua camiseta azul.

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