quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dualidades

Dias atrás me pediram para colocar na balança o jornalismo e o teatro. Escolher. Contestei: “e você palmeirense, o futebol ou a música?” “Ah...” Disse ele espantado, “eu amo igualmente os dois!” E isso é ótimo. É ótimo e belo ter o que amar. Distribuir amor, trocar conhecimento, ritmos, sons, palavras, poemas. Seja lá o que for, fazer rir, dançar, cantar alto, escrever, criar sons. É por isso que eu também amo igualmente os dois. Não é fanatismo. Nem paixão. É amor. Claro e evidente. Sem ofuscação. Por isso não escolho. Não as peso. Elas andam juntas, coladinhas em mim.

Minhas ações são desenvolvidas por pessoas e para pessoas. Pois acima de tudo faço o que amo e faço com amor, ética, respeito. Faço desta maneira outras pessoas felizes e esta é a minha arte, meu ofício, minha vocação. A arte que traz talento, dedicação, estudo e conhecimento dos fatos. Da cientificidade que envolve esta caixa preta, das palavras, da informação, da ética, da comunicação, que envolve o jornalismo. Estas dualidades envolvem a minha vida. Mas são dualidades convergentes entre si. E isso incomoda. Porque poucos sabem o que é o ator. O que faz um ator. O que o ator precisa estudar para estar em cena, seja lá onde for. Assim, como o jornalista.

Vivemos em mundo onde a prática prevalece, um mundo virtual que nos aquece no isolamento conjunto. O teatro, dizem que é feito de mentiras. Mera casualidade com as coisas da vida. As relações humanas em sua materialidade mais ínfima são encaradas. É nisso que nos inspiramos. Na vida. Na sua vida. O cotidiano maçante é posto à prova no palco, a comédia está feita. O riso rola solto. A tragédia é feita por pessoas, na sociedade, posta ao palco, faz chorar. Na televisão já não choca mais. Na visão do dramaturgo Sérgio de Carvalho, “Stanislavski queria algo mais do que recriar a verdade da vida no palco. Queria uma verdade que fosse bela, que tivesse sua plasticidade própria, seus ritmos sutis, sua vibração sensível. A visão poética brechtiana se acresce ainda de outra exigência: o teatro precisa de uma verdade que, além de bela, seja útil. E a utilidade é de ordem política”.

Clara dualidade: vida e arte. Respiro e expiro. Concentração. Os bonecos revelam o próprio olhar. Mãos. Espuma. Cores. Tinta. Tecidos. Luzes. Sorrisos. Narizes. Olhos. Movimentos. Os “narizes batatinhas” animados, olhos vidrados, compenetrados na história, nos seus enlaces de atriz. Colocar a menor máscara do mundo revela muito além do que se pode imaginar. Vai afundo no processo de construção de um clown, e para isso, percorre seu interior mais ridículo. Despe-se de toda a defesa. Foi feito para rir. Divertir. É uma pesquisa do seu eu, do seu eu Clownesco, onde reside a liberdade. A liberdade de deixar fruir a criança que habita dentro de cada adulto metido a gente grande. Ele revela o seu ridículo. Revela a sua verdade, a aceitação. Quando encontrei o meu clown ouvi dizer: “o coração do palhaço é uma flor e o palhaço nasceu para doar essa flor para o mundo”.

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