Elena estava afundada. Livros. Papéis. Canetas. Folhas e mais folhas espalhadas pela mesa. O cigarro defumando o ambiente. Teorias. Entrava em consonância com vários autores. Aquelas linhas. Formidáveis linhas tênues que separavam o abismo. Sutis nós que se entrecruzavam nos seus pensamentos. Ali segurou. Num súbito olhar o calendário marcava o dia seis do mês.
- Putaquepariu! O aluguel venceu!
Arrecadou carteira, celular, óculos, caneta, agenda, pen drive, boletos bancários, a lista do super, da vendinha, da farmácia, do açougue. Enfiou tudo na primeira bolsa que encontrou. Fechou a porta de casa. Abriu. Colocou seu salto alto e partiu. Elena mal sabia o inferno que lhe esperava. O sol estava tomando conta da cidade. “Dentro do banco ameniza”.
Uma fila a impedia de entrar. Era ali que ela deveria ficar até chegar ao próximo andar. O homem de camiseta azul impaciente distribuía olhares. Nas mãos um cartão azul, um papelzinho surrado com uma sequência de números e letras. No rosto enrubescido as bolinhas de suor tomavam conta da testa. Chegou sua vez. O moço não ouviu. Entregou-lhe uma fichinha com números e letras que dava acesso ao segundo andar. Ali, iria resolver o seu problema. Ele tentou retrucar, saber o motivo de todo o seu dinheiro escafeder-se da conta. A fila anda.
Elena recebeu suas letras e números. Deixou o celular e a chave de casa. A porta emperrou. Voltou. Olhou dentro da bolsa. O guarda-chuva. Alcançou o homem no elevador. Esbaforida. Ele parecia mais nervoso, seus olhos, suas mãos e aquelas bolas de suor não paravam quietas. O cheiro era quase insuportável dentro daquele cubículo. O ar condicionado dentro do banco não dava conta. Procurou uma cadeira para sentar e organizar a bagunça da bolsa. O dinheiro não vai dar conta. Riscou a alface, a abobrinha, as cenouras. Os tomates estão muito caros. As vacas devem estar produzindo pouco leite. Menos duas caixinhas. As batatas duram um pouco mais. Ainda tem sabão em pó.
Ela ficou ali por mais de meia hora. Resolvendo contas, cortando ingredientes e pensando naquelas teorias que lhe esperavam. Desceu. Saiu. Sentiu um braço envolver a sua cintura. Era o homem de azul. Disse para lhe entregar o dinheiro, o celular. Disse que era um assalto. Gritou. As pessoas pareciam se afastar. O braço do homem apertava com força as dobras da sua barriga. Boca fechada e andando! Depositou toda a sua força para se desvencilhar. Ele não podia levar aquela bolsa, com o guarda-chuva, o dinheiro do super, das batatas, do leite. Cambaleou. Ele correu. Virou a esquina. As pessoas sumiram. Sentiu seu corpo inundado de raiva. Encharcado de suor, quente. O dinheiro da conta vai sumir. Maldito início de mês.
Um comentário:
seu conto está GENIAL, lu!
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