terça-feira, 15 de junho de 2010

Pão e o meu circo

Começou. Para muitos começou apenas hoje a Copa do Mundo da FIFA. Futebol não é a sua especialidade. Aprendeu há pouco tempo o realmente sentido da “linha burra”, o impedimento que desabafa e pára a jogada; das variações táticas, de parar para ouvir os comentários em várias emissoras; aprendeu a avaliar; a ter aversão aquele Neto do sotaque carregado. Ah, mas não colabora com as discussões masculinas sobre o novo técnico que acaba de chegar no seu time. Futebol tem outro sentido. Um sentido mais sensível deste circo todo. Essa beleza que aglomera pessoas e esvazia as ruas no dia de semana, emociona, desabafa em forma de grito, som de “vuvuzelas” em salões de beleza e aperta seu coração de tanta ansiedade a cada bola na trave.

O bom de toda essa aflição é que ela só acontece a cada quatro anos. Desta forma, sua mente é recheada de lembranças, momentos, derrotas e aprendizados. Em 1994 era possível sonhar, ter ídolos, gritar, rodopiar pela sala, pintar o rosto e sentir alegria pela vitória daquele time do Bebeto, Leonardo, Branco, Tafarel (o mundo parecia tão bom, tão colorido e um pouco mais justo). Certa decepção e tristeza tomaram conta quando Leonardo num movimento brusco acertou uma cotovelada noutro jogador. Foi embora cedo demais. Pretinho, meu irmão, com quatro anos, tropeçou, caiu e machucou sua boca. E nós, fomos embora cedo demais. O Brasil conquistava seu quarto campeonato.

Em 2006 seus quatro amigos lhe fizeram companhia até os últimos segundos. Pacientemente tentavam desvendar suas dúvidas. Abraçados, seguiam confiantes naquele ônibus rumo à faculdade, levando na mochila um mundo de possibilidades. Deitados naquele gramado, num final de tarde gélido, compartilhavam daquele momento melancólico. A derrota para a França foi premeditada pelo amigo que foi embora. Aqueles meninos estavam tristes, seus rostos demonstravam isso, olhavam para o céu com olhares perdidos, o silêncio tomou conta. A festa, a outra festa, estava quase pronta. Era só aguardar. Era só a banda passar o som, a entrada para o nosso circo era logo ali. “É amigo... É Copa do Mundo!”

15 de junho de 2010. Começou a Copa do Mundo para nós brasileiros. A seleção do Brasil com um grupo fechado tão questionado por muitos, venceu a Coréia do Norte. Dois gols. Muitos chutes a gol. Impedimento, falta, cartão, emoção e o nervosismo de estréia. Os vizinhos enlouquecidos, a rua tranquila, a mulherada gritando a cada lance de ataque, e nós ali, bebendo guaraná, comendo pipoca, concentrados. Quando esperava mais um gol, foram os outros que fizeram. Um grito. Algum Coreano perdido na cidade, ou aquele vizinho que ostenta a bandeira do time adversário na sua sacada. Domingo tem mais, Costa do Marfim. Futebol. Teoria. Prática. Emoção. Paixão. Surpresa. Vitórias.
Ganhei amigos. Fortalecemos a nossa amizade mesmo a distância, eles estão bem pertinho. Ganhei bichos ronronantes, um amigo-amante que me ensina a cada dia mais sobre esse mundo futebolístico; conquistei tantas outras coisas, mas aqueles momentos não se apagam da minha memória. O bom desse mundo futebolístico também é reviver e ter boas estórias e histórias para contar nos próximos quatro anos, ter paixões para alimentar, alegria para gritar, vibrar, opinar na escalação, ter alguém por perto para abraçar. Queremos mais pão e circo, aqueles amigos reunidos, você meu amigo, meu amor, Pretinho, aqueles felinos, aqueles sons irritantes e as emoções de sempre. Enquanto isso, a cá, um time recebe um treinador. É amigo, isso é o Futebol!

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