quarta-feira, 30 de junho de 2010

La Trupe

A ração espalhada pelos cantos da casa. A água jogada no chão. Os tufos de pêlos espalhados por todos os cantos. Os gatos tomaram conta do apartamento. A Mulher Maravilha, o Arqueiro Verde, Homem Aranha, Batman, Robin, Coringa, Surfista Prateado, e mais uns tantos que nem sei o nome. Senhor Flores e sua equipe do nariz vermelho, Gordo e Magro, eles também participaram, com toda a certeza. Até o sindico Professor Bartolomeu, se rendeu. Armaram uma festinha. E foi no sábado à noite e não nos convidaram. Funestos. Quase se matam. Quase se jogam pela janela. Correm pela sacada enlouquecidos. Enquanto nós degustávamos uma saborosa feijoada no domingo. Eles, no mínimo amanheciam de ressaca.

Troquei a água, enchi os três potes com ração. Olhei para tudo. Os livros em ordem. “Batmóvel” no lugar, Bartolomeu não respondeu, os felinos sequer ronronaram. O leite estava na geladeira, intacto. Os chocolates no pote pareciam organizados em harmonia, por cores. Na mala trouxemos presentinhos. Três cobertores. Eles ignoraram. Eles não sabem o verdadeiro sentido daquela coisa fofinha. Cada qual no seu cantinho se achegou lentamente. Aproveitando o quentinho que o soft traz. O Martini. Várias doses. As duas garrafas estavam vazias. A cerveja. Os canudinhos sumiram. O suco. As laranjas. NADA. SEM NADA.

Assim se deu o final de semana no apartamento quatrocentos e três. Na segunda, a farra continuou. Três gols e muita pipoca de micro-ondas. Enquanto lá a Holanda prepara-se para enfrentar o Brasil. Por aqui, as coisas também já foram organizadas taticamente. Margareti deve chegar de Santa Catarina ainda na sexta. O síndico liberou o salão central. Enquanto isso, as trocas de elogios continuam, e cá. Será que os felinos sabem que Pelé é melhor que o outro? Será que todos que vivem por aqui concordam? Ah... esse mundo embrulhado. Um café preto. Uma xícara de café preto e bolachas água e sal, é tudo o que restou. Mais um bocado de bolo. Alice quer uma dose de “uisque”. Por favor!



quarta-feira, 23 de junho de 2010

B.ar.(te).


Uma arte intensa. Cheia de cores e texturas. Com uma linguagem que se constrói a cada passo, conversas ou goles de qualquer bebida que ali encontrar. Uma grande obra de arte para a apreciação do seu público, com os mais diversos materiais e possibilidades, mas para ser apreciada durante a noite. Uma casa que se transformou em uma instalação, onde a percepção estética é a chave da comunicação artística.

“Amstad Arte Bar”. Localizado na rua independência em Passo Fundo – RS, não seria um BAR qualquer, não fosse toda a descrição já citada. Mas como um BAR qualquer em uma cidade com tantas opções, ficou meio esquecido. Mas no início não era assim. Lotado. Quase todas as noites. Toda mundo falava do tal bar. Todo mundo comentava da tal decoração. Mas, é um Bar, e por este motivo de uns tempos para cá, não tem a mesma circulação de pessoas, o mesmo ritmo do som, as mesmas cores que me encantaram quando por ali passei pela primeira vez. Talvez a falta de música eletrônica, talvez porque a entrada começou a ser cobrada, talvez porque o lanche da frente é melhor, e o bar do lado de lá é mais badalado. No mês de junho do ano passado, entrevistei o artista plástico que desenvolveu seu trabalho e transformou aquela velha casa em um lugar belíssimo. É isso que vale, enquanto por lá as portas estiverem abertas.

Régis Keller, artista plástico natural de Ijuí – RS, veio a Passo Fundo – RS para estudar desenho em 1993. Há 15 anos a arte tornou-se uma profissão para ele. Participou da instalação da obra “escrita de Deus” de Gustavo Nachle, em 1994. A partir daí vem desenvolvendo o seu trabalho como artista a favor da arte. Uma vida pela arte. Régis é responsável pela obra no “Amstad Arte Bar”.


CD - Quais os materiais que foram utilizados neste trabalho?
Primeiro usamos aquilo que tínhamos aqui dentro. Nós buscamos elementos que também tivessem a ver com aquilo que estávamos trabalhando. Então, usamos as aberturas como um ponto forte, quase que o principal, que era manter as características de casa antiga. Referências, por exemplo, pictóricas de casas desgastadas, de materiais texturados, como a estopa resinada nas luminárias. E consegui alguns elementos com o desenho um pouco mais velho, que seriam as luminárias em madeira com corrente – que estão nas duas peças do centro – dessa textura que está no bar. Procuramos também uma um artista que tivesse alguma referência com essa identidade que nós estávamos criando no bar. Então apostamos que o desenho ele teria um bom relacionamento com a obra do Gustav Klint e nós trabalhamos as impressões (MESAS) de alguns detalhes do desenho do Klint ampliado nas mesas que formam o corredor. Por ser um desenho que tem bastante textura (não é uma pincelada chapada) o trabalho do Klint tem aquilo que nós estávamos buscando, que levamos para as paredes, que é mancha, o desgastado e a cor. Trabalhei também com o grafite alemão, a sterder oito B, tinta acrílica, tinta fosca, uma tinta só com a transparência, vernizes, automotivos, resina, estopa, metal, foram alguns dos materiais que usei durante o desenvolvimento do trabalho.

CD - A linguagem visual foi construída a partir da sua concepção ou em conjunto com os proprietários?
Eles vieram com a vontade. Tinham essa vontade de explorar alguma coisa que fecharia com o desenho do Klint. Então sentamos e avaliamos o desenho do artista, e a partir daí começamos a montar os ambientes.

CD - Você trabalhou a partir de obras de arte. Essa obra fica como uma peça decorativa ou como observação da obra em si?
Estes dois desenhos que fazem parte deste corredor que tem o trabalho do Klint bastante destacado nas mesas acredito que busca essa apreciação. O traço é um traçado múltiplo, tenho várias linhas de grafite que formam a linha principal, como se fosse uma rasura de lápis para poder construir o traço. Essa rasura ela lembra muito a textura que usei manchas das outras salas. Formam uma unidade. E o Van Gogh ele tem aquela pincelada texturada. Eu representei da melhor forma, porque eu não represento o desenho inteiro deles, eu represento um pedaço do desenho, aquele que eu acho que se encaixou mais com o espaço. Em primeira mão, esse desenho é para ter um pouquinho mais de profundidade em uma parede, para criar um pouco de perspectiva. Esse desenho do Van Gogh, (CAFÉ), eu tenho ele com um bar, uma rua que constrói uma perspectiva ao fundo. Essa perspectiva seria quase que um trabalho de tromp oil, só que não necessariamente com o realismo que o tromp oil exige, trabalhei isso. Misturei as coisas. O contemporâneo permite essa mistura de elementos. Eu teria uma técnica adequada para resolver esse problema, que é o problema da perspectiva, mas como o trabalho do Van Gogh era aquele colorido que procurávamos com cores vivas e as cores primárias que eu gosto de trabalhar bastante, o (Van Gogh) artista tem a exploração destas cores de uma forma brilhantíssima. Eu me considero uma pessoa feliz e realizada por poder trabalhar em cima. Tomara que ele não reclame do que eu fiz. Eu gosto muito dessa textura dele, essa pincelada nervosa, onde a todo o instante tem uma pincelada. Você não vem com muita calma, você vem com muita rapidez no fazer. Não é uma pincelada meio sinuosa, ela tem uma certa ansiedade. Ela representa essa rapidez com que ele fazia os seus trabalhos.

CD - Essa arte em lugares mais diferenciados possibilitando o acesso das pessoas estabelece uma forma de construção e desenvolvimento da sensibilidade estética. Você acredita que o seu trabalho possibilita isso para o público?
Desenvolver alguma opinião a respeito e poder desenvolver essa percepção estética é o que a gente espera.
CD – Então essa percepção estética tem o mesmo sentido nestes ambientes ocasionais?
Sim, foi o propósito. Porque no primeiro contato com o proprietário ele esclareceu que a finalidade dele, pelo nome “Amstad Arte Bar”, tinha que ter esse relacionamento. Ele queria ter um diálogo diferenciado para o público dele através de manifestações culturais dentro do seu estabelecimento comercial.

CD – As formas artísticas aqui estabelecidas vão além das suas próprias intenções como artista?
A receptividade está sendo muito boa. Eu estou achando que as pessoas também estão tendo essa visão do quanto é importante essa forma de linguagem. Então, se há satisfação diante do resultado final do trabalho, eu percebo isso porque o público comenta, tem uma receptividade.

CD – Qual a sua percepção de belo?
Nem sempre é o que agrada.

CD - O conceito de “obra aberta” cunhado pelo filósofo Umberto Eco se estabelece neste ambiente?
O ciclo não se fecha. Temos uma opinião nova, porque um número ilimitado de pessoas vai passar e vão ter diferentes formas de perceber esse trabalho. Porque a arte completa, essa linguagem completa, ela vem justamente no momento em que você pode entrar aqui e a cada dia perceber um elemento diferente. Essa é forma de pensarmos a obra como completa, ela é inacabada até o meu público conferir essa linguagem que se adapte a ele. Essa é uma grande instalação.

CD – Velázquez dizia que não pintava uma rosa, mas um borrão que se parecia com uma rosa. Como pode ser identificado o artista Régis?
Eu sou artista plástico, a minha capacidade de conseguir um resultado positivo, eu só consigo em ambientes grandes. Então eu não consigo levar isso até um cavalete ou até um quadro, por exemplo. Eu tenho muita dificuldade em só pintar uma tela, sem criar um elemento tridimensional a sua frente, sem trabalhar o elemento tridimensional através de uma textura. Eu não saberia citar uma característica, até porque é difícil se rotular, mas eu estou dentro do contemporâneo que é essa mistura de elementos. Acredito que as minhas texturas são o mais forte do meu trabalho. Vou muito em busca dessas manchas. Como diz o Velázquez, você quer ver a rosa através da minha mancha, do meu borrão, você vê. Eu estou tentando com que as pessoas vejam, de repente, através das minhas texturas alguma coisa. Isso fica mais evidente para aqueles que observam. Estou trabalhando na minha linguagem há seis anos. Eu trabalho muito com o capital que vem de terceiros, então eu tenho que trabalhar com outras ideias e pessoas em conjunto. Eu não consegui tempo suficiente – fora do trabalho que eu tenho para retorno financeiro, porque precisamos desse retorno também para poder se financiar – para trabalhar minha linguagem. Eu participei sempre de exposições coletivas. Tenho mais um bom tempo em cima até chegar a uma linguagem própria.

CD – Qual parte desta grande obra você tem mais apreciação?
Eu gosto de todo o conjunto. Porque essa grande instalação você tem espaços onde pode contemplar o que agrada o visual. Porque a casa tem muitos espaços abertos, muitas lacunas, e é através destes vãos que a gente consegue perceber as outras peças. Então eu tentei – e acho que consegui acertar de maneira satisfatória – esse equilíbrio que eu tenho entre as cores, entre os elementos que foram usados aqui dentro. Você olha através destes vãos e todo o ângulo que você olha vai ter uma harmonia. As cores vão estar harmoniosas, os elementos vão agradar. Então essa foi a principal preocupação que eu tive e acredito que obtive um resultado satisfatório dentro daquilo que esperávamos.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

1922

Acordou cedo. Aceitou a chuva. Saiu para a rua. Aqueles malditos pingos na lente dos óculos. A lente suja, a visão encurta. Na televisão, o futebol. A informação não dizia respeito a nenhum pênalti perdido, nenhuma intervenção de jornalista, nem a temperatura. O dedo pulsa, dói. Ele me fez enxergar outro mundo. Rumo. Intenso. Poético. Político. Seus ciclos. Nossos ciclos ao ler seus escritos.

Meu primeiro contato foi distante e ao mesmo tempo com uma onipresença mágica. Naquela madrugada líamos um dos seus livros com o corpo embebedado de escritos, palavras e risos que se soltavam naquele lugar ímpar. Era para surgir aquilo que éramos incapazes de dizer, mas de sentir igualmente, talvez o que ele queria sentir. O ano de 1922 está estampado naquela camiseta com flores e poesias. Absurdos. Irônicos. Coisas. Vida.

Encontrei-me com ele, pela primeira vez, nem lembro o ano, mas lembro-me das revoluções que se fizeram. Ao sorrir, ao calar, ao viver. Ao me imaginar quase sem fôlego lendo em voz alta, rodopiando pelo quarto, outra vez aqueles escritos. Era a inspiração. Ele misturava meus pensamentos com os de outros tantos escritores. José Saramago. Mil novecentos e vinte e dois. Foi-se tirar o fôlego de anjos e fazer enxergar mesmo quando tudo parece fosco, sem cor, sem brilho, ponto final.

“Acordou com a sensação aguda de um sonho degolado e viu diante de si a chapa cinzenta e gelada da vidraça, o olho esquadrado da madrugada que entrava, lívido, cortado em cruz e escorrente de transpiração condensada”.

“O ditador caiu duma cadeira, os árabes deixaram de vender petróleo, o morto é o melhor amigo do vivo, as coisas nunca são o que parecem, quando vires um centauro acredita nos teus olhos, se uma rã escarnecer de ti atravessa o rio. Tudo são objectos. Quase”.

José Saramago in Objecto Quase.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pão e o meu circo

Começou. Para muitos começou apenas hoje a Copa do Mundo da FIFA. Futebol não é a sua especialidade. Aprendeu há pouco tempo o realmente sentido da “linha burra”, o impedimento que desabafa e pára a jogada; das variações táticas, de parar para ouvir os comentários em várias emissoras; aprendeu a avaliar; a ter aversão aquele Neto do sotaque carregado. Ah, mas não colabora com as discussões masculinas sobre o novo técnico que acaba de chegar no seu time. Futebol tem outro sentido. Um sentido mais sensível deste circo todo. Essa beleza que aglomera pessoas e esvazia as ruas no dia de semana, emociona, desabafa em forma de grito, som de “vuvuzelas” em salões de beleza e aperta seu coração de tanta ansiedade a cada bola na trave.

O bom de toda essa aflição é que ela só acontece a cada quatro anos. Desta forma, sua mente é recheada de lembranças, momentos, derrotas e aprendizados. Em 1994 era possível sonhar, ter ídolos, gritar, rodopiar pela sala, pintar o rosto e sentir alegria pela vitória daquele time do Bebeto, Leonardo, Branco, Tafarel (o mundo parecia tão bom, tão colorido e um pouco mais justo). Certa decepção e tristeza tomaram conta quando Leonardo num movimento brusco acertou uma cotovelada noutro jogador. Foi embora cedo demais. Pretinho, meu irmão, com quatro anos, tropeçou, caiu e machucou sua boca. E nós, fomos embora cedo demais. O Brasil conquistava seu quarto campeonato.

Em 2006 seus quatro amigos lhe fizeram companhia até os últimos segundos. Pacientemente tentavam desvendar suas dúvidas. Abraçados, seguiam confiantes naquele ônibus rumo à faculdade, levando na mochila um mundo de possibilidades. Deitados naquele gramado, num final de tarde gélido, compartilhavam daquele momento melancólico. A derrota para a França foi premeditada pelo amigo que foi embora. Aqueles meninos estavam tristes, seus rostos demonstravam isso, olhavam para o céu com olhares perdidos, o silêncio tomou conta. A festa, a outra festa, estava quase pronta. Era só aguardar. Era só a banda passar o som, a entrada para o nosso circo era logo ali. “É amigo... É Copa do Mundo!”

15 de junho de 2010. Começou a Copa do Mundo para nós brasileiros. A seleção do Brasil com um grupo fechado tão questionado por muitos, venceu a Coréia do Norte. Dois gols. Muitos chutes a gol. Impedimento, falta, cartão, emoção e o nervosismo de estréia. Os vizinhos enlouquecidos, a rua tranquila, a mulherada gritando a cada lance de ataque, e nós ali, bebendo guaraná, comendo pipoca, concentrados. Quando esperava mais um gol, foram os outros que fizeram. Um grito. Algum Coreano perdido na cidade, ou aquele vizinho que ostenta a bandeira do time adversário na sua sacada. Domingo tem mais, Costa do Marfim. Futebol. Teoria. Prática. Emoção. Paixão. Surpresa. Vitórias.
Ganhei amigos. Fortalecemos a nossa amizade mesmo a distância, eles estão bem pertinho. Ganhei bichos ronronantes, um amigo-amante que me ensina a cada dia mais sobre esse mundo futebolístico; conquistei tantas outras coisas, mas aqueles momentos não se apagam da minha memória. O bom desse mundo futebolístico também é reviver e ter boas estórias e histórias para contar nos próximos quatro anos, ter paixões para alimentar, alegria para gritar, vibrar, opinar na escalação, ter alguém por perto para abraçar. Queremos mais pão e circo, aqueles amigos reunidos, você meu amigo, meu amor, Pretinho, aqueles felinos, aqueles sons irritantes e as emoções de sempre. Enquanto isso, a cá, um time recebe um treinador. É amigo, isso é o Futebol!

sábado, 12 de junho de 2010

Dois

O meu e o seu
São diferentes?
Amor
Igual
Seres diferentes
Moralmente exatos
Válidos
Vinculados
Ah, esse mundinho.

Olhares, só
Trocas, unidos
Olhos fixos
Pensamentos vagos
Palavras que soltam
Riso
O sorriso
Juntos
Enamorados amantes

Amo.
Troco.
Convívio.
Não troco.
Mudo.
Vivo.
Um mundo.

Amamos um ser só
Igualmente diferentes
Cheios de defeitos
Cheias de manias
Completam-se em qualidades
Humores
Incrivelmente uma harmonia

Desarmonia.
Paixão.
Amor.
Troca.
Beijos.

Duas em uma
Contra todos
Amores se constroem
Vivem juntas
Elas,
Flores à distância
Pertencimento que une
Maldita coletividade!
Parte à capital.
Sociedade errante.

Velho e nova
Somos o que se renova
Este amor novo
O amor se alastra
Exala seu perfume de baunilha
Seu perfume sem marca
A sua marca
Corpos em rima
Beleza eterna
Esquece a rima.

E se ela voltar diferente
Ajeita um espaço na cama
Puxa a coberta,
Descobre o coberto
A janela está aberta
Fecha o mundo
Olhares profundos
Amantes emaranhados.

E se ele voltar diferente,
Refaz o esquema
Quente
Troca os afazeres
O amanhecer desperta um fato
Pacientemente
Sirva o amor novamente
Ah, a paixão!

Ah, o amor!
Os amantes
Nós
A sós
Nós os amantes
E os gatos
Ronronantes.
*

*
Muito amor, sempre.
Muita harmonia todo dia.
Muita paz no lar.
Muita conversa todo dia.
Ame sempre toda e qualquer gente.

*


Beijos!

terça-feira, 8 de junho de 2010

A imensidão que ela se propôs

Partiu? Não. Alice ainda está aqui no frio de outro país, noutra elevação. Saudade mutua. Abraço apertado, olhos emaranhados, brilhando. E começou a falar calando tudo ao seu redor. Esquentando a noite. Esfriando os dias. Acalmando os corações. Lendo brasileiros, escrevendo em outra língua, pensando em sinais abstratos. Sentimentos revelados.

Respirando profundamente. Caminhou pelos ares. Andares solitários, comunhão de bens, sentimentos e raciocínios. Ela está ali, parada observando o luar, o vento que corta o seu rosto de bailarina. Como quem precisa de uma música para dançar, cantou. Dançou, recitou e saiu. Os passos lentos e leves. Disse: “Até mais!” Ela vai voltar. Com uma bolota vermelha no nariz, fazendo sorrir os que ainda têm narizes de batatinha, os que já cresceram e os que vivem há muito mais tempo que todos nós. Fantasiando a vida, renovando ela, redecorando os poetas, seus escritos; subindo no palco e nas calçadas mais uma vez.

Imersa em outro mundo para buscar o seu, ou numa tentativa de resgatar o seu próprio mundo? Alice em constante combustão, em inconstâncias revoluções com o seu mundo. “Curta é a vida, longa é a paixão”, releu Luís Fernando Verissimo. Saiu para suas intervenções diárias. Atriz, poeta e sensível como a vida propôs outras circunstâncias para os dias gelados. Abraço apertado e demorado, beijos apaixonados e a saudade se esvaem em segundos; e volta a bater daqueles outros que ficaram naquela cidade sinuosa.

As canções propõem uma imensidão de ideias, e para ela outras tantas formas de fazer sorrir o mundo deles. Alice curte mesmo as crianças, seu narizes, em alguns em forma de bolotas vermelhas, em outros narizes de batatinhas. São eles que transformam um dia gelado numa imensidão de alegria em outro lugar do mundo. Outro mundo, bem mais fascinante, e ela sorriu; e bem mais fantasioso, e o olho dela falou; bem mais sensível.

domingo, 6 de junho de 2010

Primeiro a larva

...
Surpreendentemente se encontra ali
Diferente
Coisas que só você pode fazer
E fez
Recostou-se no sofá
Sentou-se no chão
Onde o sol estava.

Os dias em que éramos pequenos
Borboletas
Somos
Paixões
Amores
A velha bicicleta verde
O empurrão que fez mudar
O mesmo lugar
Vamos andar?

Saiu.
Partiu.
Sumiu.
Desapareceu.

Não viu
Não sentiu
Escondeu-se no escuro
Sorriu.
Falou.
Dançou.
Gritou.

Surpreendentemente o tempo voltou
Reuniu outra vez
Aquele velho papo bom
Mano
Valeu “Pretinho”
Aceito um café
Um bom dia para o café da manhã.

Um labirinto para chegar
Afeição
Dias estranhos voltaram
Força
Aquelas mesmas pessoas estranhas
Verossimilhança
Viva
A vida
“Tem que ser sangue bom”, Pretinho!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O fulgor das estrelas

Eu me apaixonei pelo luar. Pelas noites frias, pelas noites quentes e escuras. Me apaixonei pelo horizonte e pelas luzes das casas que de lá surgiam. Queria saber “quenhé que morava lá”. E que lugar é aquele? Na verdade queria saber mais, mas só a minha imaginação poderia me proporcionar estas respostas. Eram momentos ouvindo, sonhando, alimentando paixões, construindo objetivos e desconstruindo histórias infantis. Ninguém vira uma estrela no céu. Tinha receio de desvendar essa façanha – tão anunciada pelos adultos – sozinha. Mas foi o que aconteceu. Não lembro quando, nem onde, mas descobri que meu avô continuava a me contar as histórias dos ranchos longínquos, das constelações, da sua balsa no rio, mesmo tão distante de mim. Foi assim que me envolvi nos sonhos e cativei alguns objetivos. Assim, e com tantas outras coisas, que até o final da sua vida o Senhor Arthur ajudou a construir a minha essência.

Sentir a ausência. Perceber a onipresença sem poder sentir a sua pele em ondas, aquele sorriso que me abraçava, o olhar sincero, as mímicas, as mãos que brincavam com os meus olhos e que escondiam os doces. Era uma recepção programada. O som daquele chinelinho arrastando no piso de madeira soa na minha memória. Ela está aqui. Como se ouvisse perfeitamente bem. Como quem sente a aflição alheia. Como quando entrava no seu quarto, ajudava na escolha do vestido, dos brincos, do colar. Ela sentava na sua cadeira frente ao espelho, passava pó naquele rosto sorridente com uma delicadeza e uma destreza impar. Olhava-me por cima, com um sorriso ladino, depois me entregava as “ramonas” para que eu fizesse o melhor penteando, naqueles poucos fios de cabelos compridos. As unhas sempre pintadas, os vestidos bordados e o cheiro da sua pele não me deixam esquecer os bons momentos que passei ao lado da Senhora Paulina, uma professora, uma mãe, uma avó e uma amiga.

Foi num verão, nas férias da escola que mais senti a falta do meu pai, porque sentia o amor que ela tinha por ele. Ao lado dela assistia o jornal na televisão, aprendia a fazer o melhor arroz que já comi, a dar e receber carinho. Ao lado dela e com ela, aprendi a ser forte. Foi ela quem me ensinou a ajudar sem medir esforços, sem receber recompensas. Herdei vestidos, uma mala, um anel e infinitas recordações. Guardo na minha caixinha a nossa sintonia, os nossos olhares e todo o nosso amor. Resgato de lá, quando preciso respirar fundo. Apenas as boas lembranças. Apenas a verdade que me envolve com eles. O pai da minha mãe e a mãe do meu pai. A minha avó, minha luz de todo o dia.

Desde o último inverno oito pessoas fazem esse entrelaço com meus avós. Trocamos conhecimentos, vivenciamos experiências, sensações, convivemos com a arte. Eles completam o que se foi: o abraço, o cheiro, o carinho, os conselhos sábios, as histórias que me encantam. Nada melhor do que ter sempre por perto alguém com mais de 60 anos, sorriso no rosto, disposição, vontade de viver e recomeçar sempre. Leveza e intensidade. Sem olhar para o céu, sem pensar nas estrelas que não foram.

terça-feira, 1 de junho de 2010

(Re) Construindo

Abandonei esse espaço. Mas por alguns bons motivos. Passei dias e meses me dedicando ao Trabalho de Conclusão do Curso, no qual rendeu a nota máxima. Depois, foram dias, organizando a festa e o discurso da formatura. Com o verdadeiro valor da virtude da paciência. Dedicação e amor a um objetivo nos beneficiam com momentos belos, únicos, divertidos e de muita felicidade, com a certeza de mais uma etapa concluída. Guardo na minha caixa aqueles momentos.

Depois da monografia existe vida, e latente, intensa, pedinte de movimento, ao menos pra mim. Busquei livros, cursos, provas. E fui atrás. Numa destas leituras desse mundo, encontrei ótimos autores, que servirão para discussões futuras neste espaço (sim, mais do que nunca voltei), agora cursando especialização na área, necessito deste exercício. Mendoza, em La islã inaudita, discorre na introdução do livro A construção da notícia de Miquel Rodrigo Alsina sobre a verdade e o valor que nela consiste. O meu horizonte cognitivo está entre estes meios e processos. E este mundo onde estou submersa está consistentemente imerso nas notícias, informações e na construção destas com a realidade. Já que “o jornalista é um produtor da realidade social” segundo Alsina, todas estas vertentes cá estarão. Todas as que estão submersa: a arte, os absurdos da vida, o jornalismo e a cidadania.

“Você sabia que algumas destas estrelas que agora você vê aí, na verdade, já se apagaram há milhares de anos, mas que, por causa da sua distância, continuamos percebendo sua luz e admirando o que já não existe mais? Isso demonstra até que ponto nos é fácil enganar e sermos enganados. No entanto, quanta importância damos à verdade! O senhor não acha?” (MENDOZA, E. La islã inaudita. Barcelona: Seix Barral, 1989, p. 125-126).


Muita paz!